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Primeira base.

Foi um domingo.

Eles estavam sentados em uma mesa na calçada. Apesar do sol, fazia frio. Gosto deste tempo, é como quando sorrimos apesar de estarmos tristes. Jéssica não entendeu, ou só fingiu também. Prefiro os dias cinzas. André calou-se, talvez tenha entendido demais, nunca percebia o que as pessoas queriam dizer. Nos cernes dos bom-dias, ele nunca soube se havia carinho ou rudeza. Durante aquela tarde os olhos se calaram, desviavam-se, às vezes se trombavam, porém as bocas não davam pistas, estavam imóveis, uma linha reta apenas. Nenhum rubor.

André quis fumar, porém temeu que Jéssica pensasse ser uma provocação. Por que as pessoas fumam? Ele nunca soube defender seu ponto de vista, nem tentou, jamais convenceria Jéssica, ela era inteligente demais e ele tinha paciência de menos.

Enfim chegou Paulo, André sorriu, beijaram-se. Jéssica tentou sorrir, pegou o celular. Com licença, é importante.

Quando voltou, estava sem batom e agora o delineador fazia uma pequena curva no fim dos olhos, ela sabia que ele havia percebido. Eu não entendo você!

Eu não nunca quis que você me entendesse, eu só quis que você me aceitasse.

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