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Ficando chato,

meu humor, assim como o dia lá fora que já não é mais dia, vai de branco, brando à gris e então enegrece. Aos poucos, devagar. Divagar já não causa prazer, apenas aumenta os demônios que correm largos dentro da cabeça e no lugar onde fica o meu coração, como sabem, no estômago.
Sinto o ventre apertar, como que murchasse, como que transformado no de um faquir kafikaniano. Ah! estou farto! E não é de semideuses, mas das pessoas bem humanas, estas que testam sua paciência com o mundo, estas que insistem em tentar liberar o sociopata de cada um de nós.
A verdade é que eu não presto. Saboto-me a cada instante para ver se alguém dá cabo. Jogo a responsabilidade e o leve peso da minha esdrúxula existência para cima do alheio.
Sentido nada mais faz, nunca fez na verdade. Engano bem, me engano mais, mas nunca o suficiente. Este quarto me sufoca, mas não consigo mais viver sem ele, é como que se eu tivesse crescido tanto que ele se tornou parte de mim, como um bernardo hermitão, ele é minha casca, está colado em minha pele, e dói tentar tirá-lo, nem tento.
Estou cansando de promessas, tanto em fazê-las quanto de ouví-las. É preciso um pouco de ação, tento fazer minha parte, é pedir demais um pouco de reciprocidade? Foda-se, amanhã é segunda e a rotina há de salvar-me.


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Now playing: The Beatles - I'm Only Sleeping
via FoxyTunes

Comentários

Anônimo disse…
Que texto lindo e bem escrito! adorei.

Meu quarto também já virou um pedaço de mim. Se pudesse, acho que o levaria junto comigo aos lugares onde vou.

bjs

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